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Foto do escritorCristiane d'Avila

Sábado, 13/11/1920

Atualizado: 15 de jun. de 2021

Coluna Bilhete


Transcrição


A um homem inteligente – Li a sua carta e tornei a lê-la. Torno público o período em que você me censura: “O grave defeito que encontro no seu jornal é a sinceridade. Isso é contra a ética jornalística. Você é sincero! Haverá maior erro do que ser sincero, sem negociatas e sem alarde de não as fazer? Você pelo Brasil grande, pelos pobres, pelos desgraçados, pela Nação, pela Raça! Pode o seu jornal ter a grande tiragem que tem; podem subir as suas escadas os homens sinceros. Quantos serão?


Defender os poveiros, gente rude e sem vintém, defender os proletários espoliados; defender a formação do grande Brasil num momento em que o governo mostra simpatia pelos pescadores da Avenida, que são contra as correntes migratórias; opor-se à onda de insânia que se faz contra o inestimável trabalho que nos dão os portugueses. Mas você está doido. Tem de ser infamado, insultado, caluniado. O insulto à sua pessoa, que a inveja e o despeito sempre fizeram largo, tornou-se matéria paga. E a culpa é sua.”


Respondo, meu caro amigo. Quando me decidi a fundar A Pátria contei de antemão com o que teria de acontecer. Decidi-me: resignei-me a priori. Não bastavam as conferências, os artigos, os livros. Necessitava da ação diária. Era preciso mostrar que o povo, talvez um pouco cético diante de tanto erro e tanta velhacaria, continuava o generoso povo sofredor, inteligente, capaz de discernir. Era preciso insistir sobre o erro dos governos, sobre a solução dos nossos problemas dependentes de solução urgente.


O povo tomou no mesmo instante este jornal, que é seu, que é seu de verdade.

Os negocistas mandaram-me insultar e até um desembargador, o Geminiano de Franca, que esgota a verba secreta pagando gatunos, mandou pregar papéis contra mim nas portas das repartições públicas.

Mas que importa?


Essa hipocrisia reles, essa torpeza indecente, essa ignorância recalcitrante de cavadores guindados e apaniguados de um prodígio do ???, com todos os erros, todos os ???, toda a estultice ??? de um bacharel pretensioso – não podem impedir o clamor do povo, de todas as classes conservadoras, entre as quais coloco o proletariado, de todos os que produzem e trabalham, diante da ameaça de crack.


Consulto você, um banqueiro, um industrial, um comerciante, um operário, um funcionário. Pela primeira vez você terá a harmonia das opiniões. Todos são contra a ??? situação criada pelo governo, todos bradam. O Brasil grande, o Brasil que devia ser a maior potência, graças à guerra, tem uma coisa pior que tudo que o entrava: a inépcia do governo. E tanto é assim que todos os que ??? algo retomam os nossos argumentos e vão aumentando a grita de protesto.


Pode ser que não seja da boa ética jornalística a sinceridade. O que tem dado o apoio à minha argumentação sempre foi e é exatamente essa sinceridade. Os meus amáveis colegas podem urrar, infamar, salivar. O público dá-me razão. Desta vez é o pais inteiro – porque ninguém mais em condições poderia ser da camarilha que ??? o Sr. Epitácio (ao qual pessoalmente só devo gentilezas e atenções excepcionais). Mas, sem interesse prejudicado e sem lhe ter feito pedidos, preferi dizer o que penso a ??? com o Geminiano ??? os operários e nos automóveis dos pândegos que metem o bedelho nisto tudo.


A sinceridade ainda é uma coisa muito grave. Eu não tenho ??? nem excitações. Tenho certezas. Você verá ainda o que vai acontecer.

Seu cordialmente


João do Rio

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