Coluna Bilhete

Transcrição
Ao Sr. Presidente da República. – Palácio Rio Negro – Sei, Sr. Presidente, que V. Exa. resolveu considerar-me agitador. É uma forma categórica de julgar que me deixa um pouco perplexo. Como V. Exa. sabe, eu sou calvo. Em geral os agitadores são cabeludos. Como V. Exa. sabe, tenho uma grande pança, que tem sido um dos motivos de ataque de vários inimigos. Comumente, não se encontram agitadores ventrudos. Ao de mais, como V. Exa. não ignora, pertenço por eleição conservadora a duas Academias, ao Instituto e, além de ser grã-cruz duas vezes, sou comendador outras duas e proprietário, o responsável por uma empresa que vale só em máquinas algumas centenas de contos de réis. É perfeitamente impossível que eu seja agitador, como deseja a profunda e incorrigível patetice do venerando desembargador Sr. Franca.
Em que se funda V. Exa. para considerar agitador um conservador? Na oposição ao governo de V. Exa. quando achamos que esse governo destrói o Brasil? Em desejar que sejam nossos os navios que a França nos tomou para agradecer o termos sido seus aliados? Em desejar que o Sr. Geminiano não prenda operários honestos para coonestar [COB1] o seu esporte de atirador de bombas? Em pedir para que não se fizesse a “nacionalização da pesca” à bacamarte? Em gritar com todas as classes conservadoras contra o delírio financeiro e destruidoramente economístico[COB2] do ministro Baptista?
Agitador, Sr. Presidente, sou, entretanto pelo menos um agitador muito especial e com uma calma que chega a esquecer a fulminante opinião de V. Exa. para lhe pedir um grande obséquio. E é esse o motivo destas mal traçadas linhas.
V. Exa. pode considerar-me agitador, mas sabe bem que se o sou – sou à maneira positivista, às claras, exercendo um direito constitucional. Não conspiro porque não gosto de operetas políticas. Por que então o Sr. Geminiano gasta uma boa parte dos seus agentes em passear pelo Largo da Carioca vigiando A Pátria? Por que então o Sr. Franca organiza-me uma guarda de honra de secretas pelas ruas do Rio e leva o seu zelo a despachar para São Paulo um agente a que eu outro dia tive de oferecer uma bebida, de tal forma o homem parecia desejoso de aproveitar o regulamento geminiânico em que os cariocas só podem se embriagar até sete da noite?
Peço pois a V. Exa. que dê ordem a Geminiano para não me aborrecer, e não se meter na vida deste jornal que não se mete com a vida dele, limitando-se a criticar a sua desastrosa administração.
Certo de que V. Exa. atenderá este justo pedido, sou com toda a paciência de V. Exa. atento e obrigado
João do Rio
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