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Foto do escritorCristiane d'Avila

Quinta-feira, 11/11/1920

Atualizado: 15 de jun. de 2021

Coluna Bilhete


Transcrição


A um cidadão – Recebi a sua carta com os ares de tragédia. A carta inteira é uma tragédia-monólogo, que se poderia intitular: “Como eu gosto de perder tempo”. Vejo que você hesita em ser ou não ser jacobino. E, como Hamlet, você interroga: “Não teria sido melhor para o Brasil ter sido colonizado por outro povo?”

Mas, cidadão, por que você não ficou quieto, deixando a pena quieta?


A erupção jacobina, que não se sabe por que atacou alguns matoides[COB1] , fazendo-os espalhar-se em desaforos e patetices, não só obriga essa rapaziada ignorante à insolência inócua, como os obriga a argumentos verdadeiramente idiotas.

Um desses argumentos é o famoso, que você repete:

“Se nós fôssemos colonizados pelos holandeses ou pelos franceses ou pelos ingleses, seríamos um grande país. Desgraçadamente foram os portugueses...”


O primeiro pasmo de quem lê tais jacobinos é o de ver homens livres, descendentes de uma grande raça, lamentando não se terem os seus ascendentes, os seus maiores, deixado vencer por outra gente. Mas esse argumento, bebido em meia dúzia de energúmenos, obriga mais o espectador a notar que a faculdade de raciocínio não existe nessa pândega panfletária.


A Holanda teria feito um grande Brasil?

Procuramos a capacidade colonial da Holanda. E encontramo-la na Guiana Holandesa.

Prodígio de adiantamento esse?

Aliás, parece que a Providência pôs ao norte da América do Sul o francês, o holandês e o inglês nas Guianas, para mostrar a incapacidade colonizadora dessa gente. E se a Inglaterra é muito capaz de absorver povos decadentes, como os das Índias e o do Egito – nós sabemos como o inglês compreende o verbo colonizar, pois o vemos de espingarda e chicote, matando, azorragando [COB2] e mentindo as suas promessas, eternamente.


Os portugueses, dispondo de uma pequena população e tendo de cuidar das conquistas da Ásia e da África, realizaram com os maiores dos seus homens um formidável império, ligado pelo sangue e pela língua. Quando o nosso sentimento de independência, sentimento da nossa oceânica raça, fez com que os portugueses brasileiros trabalhassem para a liberdade do Brasil, foi um príncipe português que bradou o “Independência ou Morte!”, foi um português a fazer o nosso hino nacional e os brasileiros encontraram um império constituído, a composição do comboio de 21 carros pronta para marchar.


Essas qualidades portuguesas, acrescidas do amor que eles sempre mantiveram pelo Brasil, são admiradas em todo o mundo. Nós devemos ter o orgulho de descender de tal gente, como os americanos do norte têm de descender de irlandeses e ingleses. Pois é no momento em que devemos fazer a apoteose do Centenário, estendendo fraternalmente os braços ao povo português, é nesse momento que um bando de cavalheiros salta a insultar os portugueses – lamentando que não tivéssemos sido colonizados por outros povos.


Realmente... O argumento é de primeira água. Que pena ter Portugal feito o Brasil! Teria sido muito mais interessante se fosse por exemplo a China ou o Japão encarregado da obra, hein?


Meu caro cidadão, tenha juízo e seja brasileiro de verdade: ame a sua terra, ame a sua raça, ame a sua língua, faça o que faz o Brasil autêntico, certo do seu futuro, porque respeita o seu passado lusitano e sente devidamente o presente fraterno dos dois povos.


João do Rio


[COB1]http://www.aulete.com.br/matoide

[COB2]http://www.aulete.com.br/azorragar

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