Coluna Bilhete
Transcrição
Conde Affonso Celso – Na Equitativa – Ilustre Confrade: Um anônimo desses que têm o trabalho de gastar selo nas cartas quando é mais fácil e mais barato e ainda mais anônimo escrever em certos jornais, mandou-me hoje uma das várias “Cornetas do Diabo” que se publicam no Rio. Mandou-ma porque eu sou ali insultado de tal modo, tão porcamente, tão absurdamente e tão sem estilo e sem vergonha que, se Deus me reservasse o castigo de escrever de ??? e o maior sevandija[COB1] do mundo ??? ??? envergonhado do ato ??? da vida.
Naturalmente desde que são outros ??? as significativas provas contra mim, se eu não sentisse ??? todo o cidadão numa seção ??? teria uma certa satisfação ???. Porque de desaforos e insultos ??? nos nossos “confrades” ??? de fancaria[COB2] , uma ??? em vinte anos ??? Vinte anos, meu ??? me deram tempo de ??? continuar a não ??? e também de reconhecer como o Bom Senso tem ???
??? jornal é a exposição ??? que venho defendendo ??? conferências e ??? outros para o bem ??? Brasil, como em princípios ??? eu faço questão apenas da opinião do público e os meus livros vendem-se mais que ??? outros, as minhas conferências são aclamadas e o meu jornal tem a maior tiragem – esses ??? ideias são as da ??? A individualidade é nada ??? o entusiasmo sagrado ??? entro no ??? tranquilamente, certo de vencer. E venço.
Na coleção de insultos apopléticos não me admirei de ver responsável por tudo aquilo um ex-jovem que há alguns anos vinha pedir-me a honra de consentir na tradução de peças minhas em francês, para solicitar em seguida uma carta em que este seu criado, agora monstro ignóbil, fosse louvar a tradução: não me admirei, francamente, de todo aquele palavreado que com o devido respeito ao Conde faria vergonha à Rua Moraes e Valle ou ??? do Núncio. A minha admiração vem de encontrar V. Exa., confrade na Academia Brasileira, confrade na Academia de Ciências de Lisboa, confrade no Instituto Histórico do Max Fleinss, a assinar o primeiro artigo.
V. Exa. é um pouco mais velho do que eu. V. Exa. tem grandes responsabilidades. É possível que, tendo sido republicano na monarquia, para ser monarquista na república, o seu temperamento fizesse V. Exa, de passado amigo dos portugueses e italianos, terrível xenófobo, ??? que o mundo não admite essa fantasia, que para o Brasil é aliás um crime. Mas daí a prestigiar com as suas letras o convulso anonimato do insulto que, sob a capa de nacionalismo, atira lama a toda a gente e chama até o respeitável Pedr’Alvares de “cavalgadura” e “pirata” – (o estria é o homem!) – eu peço licença para considerar tal passo a irreflexão de um salto que não é mortal por ser V. Exa. imortal das letras.
Não é possível que o conde Affonso Celso apenas por nacionalismo renegue a História de ???. Não é possível que o gentleman ??? entre na “baderna” dos pescadores putativos do mar brasileiro, onde nem banho tomavam. Não é possível que o glorificador de Portugal, o homem que escreveu romances enaltecendo o trabalho português e a concórdia ítalo-brasileira, por patriotismo, como escreveu também o Porque me ufano [COB3] e a Lupe (romance sentimental patriótico), de repente ??? ao cordão ???? do “Quero dar na vista ???”.
E V. Exa. faz tudo isso, como porta-estandarte do “cordão”?
Perdoe V. Exa. este bilhete, que não pôde reprimir um alarmado pasmo de quem é brasileiro e profundo admirador de V. Exa. E perdoe também que lhe enderece estas sinceras linhas para a Companhia de Seguros de que V. Exa. é presidente sem ser (ai de mim!) meu confrade nisso. Numa companhia de seguros o seguro não morre de velho e, sendo a companhia ????, deve haver lá com o alto espírito de V. Exa, o espírito equitativo da admiração.
De novo, respeitosamente.
João do Rio
[COB1]sf.
1. Zool. Denominação comum a todos os insetos parasitas ou vermes: "Entre as suas energúmenas teve ela a dita de limpar uma das sujidades da sevandija infernal." (Camilo Castelo Branco, Vinte horas.))
2. Fig. Pessoa que vive à custa alheia; PARASITA: "Nós, os ingleses, somos um povo de livres que é ao mesmo tempo um povo de sevandijas." (Eça de Queiroz, Notas contemporâneas).
3. Fig. Aquele que sofre todas as humilhações sem mostrar ressentimento
[F.: Do cast. sabandija]
[COB2]sf.
1. Local onde os fanqueiros comercializam sua mercadoria
2. Trabalho de fanqueiro
3. Mercadoria de qualidade inferior, de baixa categoria: "De 'feira dos aflitos',...a Vandoma foi-se transformando...em feira de plástico.... Hoje... existem autênticas lojas...com as últimas novidades ' made in Taiwan ',... porta-chaves, fancaria diversa, tudo novinho em folha." (Helder Pacheco, "Feira da Vandoma", in Porto: sítios, lembranças, emoções))
4. Pessoa ou coisa sem autenticidade, falsa: "Implicitamente supomos que se distingam as verdadeiras e as falsas repúblicas, as democracias genuínas e as de fancaria." (Renato Janine Ribeiro, "Democracia versus república", in Pensar a República))
[COB3]O título completo do livro é “Porque me ufano do meu país” http://www.scielo.br/pdf/er/n20/n20a18.pdf
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