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Foto do escritorCristiane d'Avila

Terça-feira, 19/10/1920

Atualizado: 15 de jun. de 2021

Coluna Bilhete


Transcrição


Conde Affonso Celso – Sr. Conde. Foi com prazer que verifiquei o admirável serviço de correspondência da Companhia de Seguros que V. Exa. dirige. Logo pela manhã deviam ter-lhe entregue o meu bilhete, porque de V. Exa., acompanhando um recorte do Jornal do Brasil, diário que prezamos pela sua inalterável linha de boa educação, recebi o seguinte cartão:


“O artigo assinado por mim, ao qual se refere o seu ‘Bilhete’ foi transcrito do Jornal do Brasil, onde saíra há muitos dias. Submeto ao seu espírito de justiça o que aí vai, também publicado no Jornal do Brasil, única folha em que colaboro.”


Li, Sr. Conde, com a consideração de que V. Exa. é merecedor, o artigo, artigo que aliás consta de reproduções de vários protestos de V. Exa. contra a pecha de chefe de um movimento agressivo ao estrangeiro e particularmente, acintosamente, ao português. Mas V. Exa., com a sua aprimorada inteligência, não apela em vão para o meu espírito de justiça, tanto mais quanto eu me permito apenas indagar do seu coração e da sua mentalidade, se não têm razão aqueles que aqui e no estrangeiro laboram em erro quanto às opiniões de V. Exa.


Por mais modesto que seja o Sr. Conde – o único nome citável da “Ação” a que se refere V. Exa., é exatamente o seu. Pelo talento de V. Exa., foi de certo já verificado que é uma palhaçada impertinente isso de bradar “O Brasil é dos brasileiros”, quando ninguém pensa de outro modo – a não ser umas determinadas raças de ??? que os nossos governos e os nossos jacobinos não combatem.


V. Exa. está convencido de que nós somos latinos da América, precisando de muita gente para povoar este enorme império, que os nossos antepassados portugueses organizaram para nós. V. Exa. está certo de que para fortalecimento da nossa autonomia nacional a língua para formação individual do nosso tipo na América – nós precisamos de portugueses e de italianos, de italianos e mais portugueses, sempre mais. V. Exa. sabe que essas duas raças, pelos laços de estreita amizade, pela tradição, pela mistura do seu sangue, não são hegemônicas como colônias, e que o português é o mais sincero trabalhador para o Brasil.


Perfeitamente.


Se V. Exa. pensa assim, pergunto ??? se o meu pasmo, vendo um artigo de V. Exa. num jornal de delirante insulto a todos os que não desarrazoam como os “entusiastas” da “baderna”, não é justo, sabendo todos que V. Exa., o presidente da Ação Nacionalista, já declarou o seguinte:


“É preciso que haja, em nossa companhia, a maior prudência, moderação e equidade, de modo que nenhum estrangeiro digno possa, com fundamento, queixar-se de qualquer expressão dos nacionalistas.”


Não tenho, nem posso ter animosidades contra os portugueses, nem contra Portugal, cujas glórias tanta vez tenho procurado realçar. A colaboração é um acordo. Ainda não vi transcritos na ???, por exemplo, o parecer do Pedro Lessa, presidente da Defesa Nacional. O parecer de Clovis sobre o caso dos grandes e nobres ???...

Há, porém, mais:


O presidente principalmente da Ação deve mandar, deve ser responsável por tudo, como o é em primeiro lugar o Sr. Epitácio Pessoa, também nacionalista e também compatriota dos portugueses. Ora, quando pelo edifício deste jornal passou um agrupamento de pescadores da Avenida com uns duzentos indivíduos armados de ??? a bradar: “Morra os galego”, “Morra os vendidos dos galego!”, com a falta ??? incompreensível mesmo com a carestia geral – eu vi da janela donde assistia a essa relice a bandeira da “Ação Social Nacionalista”, que um sujeitinho de óculos do tamanho de rodas de bicicleta segurava pelas pontas – para que o povo indiferente lhe lesse os dizeres.


V. Exa., evidentemente, mandando-me artigo e palavras, prova que não concorda com aquele ??? em tipografia, que o meu nome limpo infelizmente encobria. Isso basta à minha deferente consideração de muitos anos.


Mas a toda a gente que vê só o nome de V. Exa. em tudo isso é impossível compreender que um cidadão ilustre, dando provas do verdadeiro patriotismo durante tantos anos, escreva as palavras sensatas transcritas acima, e presidente da Ação em nome da qual falou, absolutamente responsável por ela, consinta que a bandeira da mesma Ação, isto é, o nome de V. Exa., o prestígio de V. Exa., sejam trazidos à rua para vaiar, assobiar e fazer de cenário a descomponendas desvairadas contra todos os portugueses, segundo o Dr. Epitácio, nosso primeiro compatrício d’além mar.

E por isso em todo o Brasil que respeita V. Exa. e no estrangeiro, que o considerava amigo, corre o clamor do pasmo.

João do Rio

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