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Foto do escritorCristiane d'Avila

Quarta-feira, 16/03/1921

Atualizado: 16 de jun. de 2021

Coluna Bilhete


Transcrição


Ao Despeito – Meu caro Amigo! Com que triste prazer te revejo agora na face de gente que sempre pensei incapaz de te sentir! Meu velho Amigo – moldura escura de todo o meu esforço; cara masculina da Inveja, Despeito, pobre! Nestes agudos momentos de afirmação em que o prestígio vem de dizer lealmente o que se pensa, torno a encontrar-te polifacial, em todas as caras dos que me odiaram sempre e dos numerosos que já me bajularam ou me aproveitaram ou se contiveram.


Por quê? Por que, excelente despeito? Por que tamanha sandice contra a indiscutível força da Inteligência? Há vinte anos, Despeito, que, branco ou mulato, alto ou baixo, em bando porcino ou em solitária investida de javali, tu invectivas[COB1] , tu insultas, tu focinhas tristes intrigas contra mim. Tu és contra, Despeito incontido! Tu és sempre contra, graças a Deus! Tu foste contra o meu primeiro artigo como contra qualquer ideia minha. Serás contra o Despeito se eu defender o Despeito. E raivando, escumando, a falta de popularidade como a falta de arte faz-te sufocar.


Tenho de te agradecer, Despeito. Tu és o orgulho do homem que vence só e que nunca deixou de ter, contra o despeito da classe desunida, a segurança do aplauso público. Em mim, velho hipócrita, podes verificar a ineficiência do teu ataque – porque, pago por um ou por outro, ou pago pelo prazer somente de vingança, tu podes atacar, caluniar, uivar, ladrar, certo de que nada adiantarás.

Despeito, prestativo inimigo, imbecil...


Ainda agora, para engrossar o Epitácio ou o Geminiano, para lavar a alma enlameada de baixo ódio diante do êxito que não te faz mal porque te despreza como sempre te desprezou, ó multivulto sentir de tacanho engenho, tu ensandeces. Era fácil calar. Mas a cólera força-te a falar, e eu releio em seis meses da existência deste jornal tudo o que disseste contra o jornal e contra mim, sem impedir que desde o primeiro número e cada vez mais este jornal fosse o órgão da opinião pública com uma tiragem que o faz com o direito de falar pela população livre de uma cidade.


A quantos me deste por vendido, velho pateta? A quantos banqueiros, ó frequentador de negócios, atribuíste as campanhas em que somos a voz da opinião? Passaste em revista todos os bancos e acabaste por falar em caça-níqueis. Que vergonheira de indigência mental!


Que diabo! O êxito tu o reputas sempre originário de coisas tão simples? Mas por que não tens tu o público a ler-te os livros como eu tenho, sem o teu elogio, ó pulhíssimo alvar? Mas por que não consegues a Opinião a teu lado, lendo os teus jornais?

Despeito, útil inimigo, continua. No dia em que cessar a tua fúria, eu terei a lamentável certeza de que sou teu igual... Avante! Sê contra sempre, fuçando o insulto bem reles. E crê-me, Despeito, o grato ex corde


João do Rio


[COB1]http://www.aulete.com.br/invectivar

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