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Foto do escritorCristiane d'Avila

Segunda- feira, 09/05/1921

Coluna Bilhete


Transcrição


João de Barros. – Lisboa – Poeta Ilustre. Como não louvarmos a sua tenacidade amiga e essa alegria de vencer que no poeta do Anteu é o brilho inalterável de cada momento? Nesta hora em que meia dúzia de papagaios molhados da ménagerie [COB1] do meu presidente fazem a campanha jacobina com uma falta de inteligência que é da gente chorar de pena – o dever de nós outros brasileiros e portugueses pensantes é batalhar com fé, com amor, com alegria pela aproximação luso-brasileira a concluir no acordo econômico.

Diante das insólitas agressões dos papagaios, quantos não hesitariam na atitude a tomar? Você, porém, não hesita, e grande poeta e grande amigo do Brasil, mais uma vez guia o movimento da inebriante simpatia com a fundação da Liga Luso-Brasileira aí em Lisboa.

Pode haver na capital portuguesa, tão sensível porque tão sincera e tão amiga dos brasileiros, uma certa mágoa ao ler os jornalecos jacobinos e as tolices dos grupelhos nacionalistas.

Você, com a sua força entusiástica, mostrará quanto é melhor ser generoso e nobre nas suas amizades. E com amigos do Brasil como são Antonio José d’Almeida, Bernardino Machado, Domingos Pereira e Augusto Soares e Mello Barreto e o notável escritor Julio Dantas, a sua ação fraterna terá – com que prazer li eu o telegrama da Havas! – o apoio fundador de Macedo Soares José Roberto que é da nossa embaixada um grande número de brasileiros e a própria embaixada na pessoa de Fontoura Xavier, que vê a Liga Luso-Brasileira com sincera simpatia.

Chama-se a isso construir.

Que adiantarão os cavalheiros daqui descompondo portugueses, mentindo, caluniando? Todos os brasileiros de juízo são contra as extravagâncias por eles lançadas, para dar na vista. Quanto mais esses indivíduos gritam, mais contra eles se levanta o bom senso brasileiro.

Em Portugal, cujos homens de responsabilidade mais não desejaram do que nos estimar e cuja população foi sempre a expressão de amizade orgulhosa pelo Brasil – todos acabarão verificando isso mesmo e dando à campanha nacionalista a restrita importância que ela tem de ter pela insuficiência mental e representativa dos seus lançadores.

Ao ler o telegrama da Americana, que nos contou a fundação da Liga Luso-Brasileira, eu não pude deixar de fazer o paralelo.

No dia em que você reunia com o José Roberto Macedo Soares o grupo fundador, os jacobinos espalhavam aqui boletins dando uma lista de portugueses inimigos do Brasil – onde figurava o nome de João de Barros!

No dia em que se fundava a Liga de viva amizade entre portugueses e brasileiros em Lisboa, os nacionalistas numa inauguração resolviam que a independência assim como o descobrimento não era obra de um português. E, quando vocês aí pretendiam comparecer à festa do Centenário, do grito do Ipiranga lançado pelo português Pedro I, a 7 de setembro de 1822, os jacobinos decretavam que quem fez a independência foi o almirante Cochrane em 1823!...

Isso é a pura loucura. Mas no paralelo o melhor papel, o construtor, o forte, o generoso, é o tomado pelos portugueses e brasileiros em Lisboa.

Queira você transmitir à Liga os votos sinceros do admirador e grato amigo


João do Rio


[COB1]https://pt.wikipedia.org/wiki/Menagerie

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