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  • Foto do escritorCristiane d'Avila

Segunda-feira, 18/04/1921

Atualizado: 16 de jun. de 2021

Coluna Bilhete


Transcrição


Armando Burlamaqui – Na Câmara – Realmente sinto, Sr. deputado Burlamaqui, que V. Exa. ande a trabalhar tanto nas várias salas da Câmara para desacreditar o Sr. Presidente da República. Claro que V. Exa. não vai ao Monroe falar mal do Dr. Epitácio ou censurar o seu governo. Mas faz pior. Faz pior porque, tendo o Sr. Epitácio dito peremptoriamente que não queria exercer vinganças mesquinhas forçando a Câmara ao aviltamento de não reconhecer o Sr. Maurício de Lacerda – V. Exa., segundo me contam, a quanto deputado que encontra fala do caso com o ar de quem traz a deliberação do Catete.


Da mania que V. Exa. tem de bancar o líder espontâneo do Sr. Epitácio resultaram já não poucos aborrecimentos ao Sr. Presidente e a V. Excelência. Principalmente ao Presidente. V. Exa. irrita a Câmara. As respostas cortam o ar. V. Exa. teima. As respostas são pedradas. Em pouco há situações irremediáveis...


Talvez V. Exa., Sr. Burlamaqui, proceda com intenções muito amigas. O fato, porém, é que quem V. Exa. expõe é o seu grande amigo. Grande amigo de verdade e fraco a valer, porque o Sr. Dr. Epitácio, capaz de pôr fogo à cidade para não dizer que se enganou, consente que os seus camaradas o sacrifiquem, sem murmurar.


No reconhecimento de Maurício de Lacerda já há o Sr. Torquato Moreira, de quem devemos esperar o esquecimento de uma vaga parentela com o Dr. Borges, desde que todos, antes de Torquato, disso se esqueceram. Vir. V. Exa. ainda por cima fazer a campanha de animosidade é querer que se insista na história do Dr. Epitácio dizer uma coisa e mandar fazer outra.


O deputado Sr. Dr. Pessoa de Queiroz, que rutila na poltrona de secretário distribuindo cartas de recomendação da sua alta influência, mas cujo comportamento tem prêmio, apesar do que dizem os seus inumeráveis falsos camaradas, já uma vez, evocando os espíritos, e escrevendo a opinião que lhe ditava do outro mundo o falecido Barão de

Lucena, escreveu:


“Epitácio vai ter dedicações que o atrapalhem. O Burlamaqui só preliba [COB1] um gozo: ser deputado pelo Piauí. Mas na Câmara será a sua mania de líder a criar várias ‘encrencas’ para o querido Epitácio.”


Pessoa de Queiroz é bom, e nunca deu parte dessa sessão espírita a S. Exa. seu tio. Não podemos deixar entretanto de concordar que o Lucena, do outro mundo, via muito bem as coisas.


Eu, se fosse o Presidente, havia de preferir as agressões de cara do Sr. Maurício às complicações que me arranjam os melhores amigos. Nunca se prega uma peça reles a um adversário leal. Os próprios chefes capoeiras só são chefes quando fazendo cair o adversário não lhe batem enquanto ele está no chão.


O Sr. Epitácio, diante da dança dos sete véus do Raul Veiga para obter a vice-presidência e da maldade quinquagenária de Tolentino, devia ter um engulho. Não sei o que pensará ele sabendo do ocorrido na Câmara: os amigos a desmentir-lhe as declarações, cabalando [COB2] violentamente para o bonito de arrancar das mãos de Maurício uma cadeira que é dele, Maurício.


E como V. Exa. noutro tempo parecia inteligente, escrevo-lhe estas linhas para lembrar a V. Exa., tanto ao amigo do César como ao deputado situacionista, que para a tranquilidade geral mais vale Maurício na Câmara que fora dela.


João do Rio


[COB1]http://www.aulete.com.br/prelibar [COB2]http://www.aulete.com.br/cabalar

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