Coluna Bilhete
Transcrição
Ao Conde Affonso Celso – Meu prezado confrade. Acabo de ler de V. Exa. um substancioso artigo de coluna inteira, que termina com uma citação de S. Mateus, entre árvores e pássaros. Esse artigo é o de um homem superior, de um pastor de homens que ri após o triunfo seu e de seus filhos contra os patetas. E o triunfo é apenas este: a Ação Nacionalista foi considerada de utilidade pública pela Câmara para o fim de onerar mais o Correio e o Telégrafo, sem pagar a taxa devida.
Houve tempo em que os jornais tiveram de fazer uma campanha a pedido dos administradores e dos ??? contra a “utilidade pública”. Não havia revistinha, revisteca, revistão, jornal, jornaleco, publicação mais ou menos anônima, aglomerado mais ou menos desejoso de aumentar a diversão da correspondência que não cavasse um deputado que se prestava a apresentar a indicação de utilidade pública. A votação fazia-se na indiferença geral, e havia a ??? para uma porção de ??? que com um ??? carimbado podia inundar o Brasil de papel – sem pagar taxa.
Se o papel não estivesse tão caro, era de certo o que iria acontecer. A Ação onde V. Exa. é chefe e não manda nada – porque se mandasse não consentiria ??? saísse para a rua a puxar o cordão de um bando de cangurus frenéticos, pescadores da Avenida e insultadores de um país amigo. A significação do caso em época normal de “utilidade pública” da Ação na Câmara é apenas ???, vulgar, nenhuma.
Neste momento, porém, em que V. Exa. diz que ama os portugueses, alguns “doutores jacarandás” da cavação deitam manifesto, mas um bando criminoso de lesas-pátrias vocifera contra portugueses só: neste momento em que o Brasil procedeu tão feiamente contra o seu renome ilustre, no caso dos poveiros: neste momento considerar a Ação que se rotula da presidência dos nomes de Affonso Celso e de Epitácio Pessoa – neste momento (desculpe V. Exa. este estilo de brinde) a “utilidade pública”, que, de fato, não tem a menor importância, passa aos olhos dos estrangeiros como prova de um acordo geral para esvaziamento do Brasil, fornece elementos poderosos para que os jornais de Itália e de Portugal façam propaganda contra a corrente emigratória para o nosso país, e principalmente dizem aos portugueses que o Congresso dá permissão para espalharem gratuitamente os manifestos pândegos e pueris, insolentemente idiotas contra o Brasil inteligente, da rapaziada que lisonjeira e explora o meio centenário de trabalho literário do seu nome tão digno de respeito.
É esse o aspecto desagradável da questão.
Tudo isso, porém, passa, porque o povo é que reconhece de fato a utilidade ou a inutilidade ou o prejuízo de todas as ações. E o povo brasileiro deve ficar um pouco desagradado vendo nos manifestos e nos jornaizinhos dos consórcios da Ação desvairados insultos a Portugal, todo o santo dia, sem haver para isso o menor motivo, e lendo nos telegramas que a um artigo de represália mais violento do “Democrático”, da Villa do Conde, a uma resposta ríspida de homem Christo o governo português mandou processar Homem Christo e o “Democrático”.
Afinal, nem todos os brasileiros com o sentimento de justiça estão no mundo da lua. E para eles deve ser um pouco esquisito ficarem satisfeitos:
Porque a Argentina processa um pasquim por insultos ao Brasil.
Porque Portugal processa um jornal e um dos seus homens ilustres e sinceros só porque responderam amargos à campanha jacobina.
E calaram-se quando o governo do Brasil, vendo um grupo hidrófobo de insultadores de ??? nação ??? para mostrar a sua ??? diplomática e a sua justiça, considerar de “utilidade pública” a ação desses energúmenos que o nome de V. Exa. aureola ao lado do nome do presidente Epitácio.
V. Exa. mesmo não acha esquisito?
João do Rio
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