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Foto do escritorCristiane d'Avila

Sexta-feira, 04/03/1921

Atualizado: 16 de jun. de 2021

Coluna Bilhete


Transcrição


Conde Affonso Celso – Desculpará V. Exa. se insisto em querer saber agora a opinião dos jacobinos da “Ação Social” sobre a questão dos nossos navios. Esse grupo de cavalheiros, alguns perigosos matóides, outros simplesmente menos que isso, conseguiram agitar a população de vários estados, conseguiram ver realizadas várias injustiças contra pobres, desgraçados trabalhadores, gritando aos quatro ventos o seu patriotismo.


V. Exa. e o Sr. Dr. Epitácio, com essa gritaria, deram apoio, mão forte à baderna. O presidente autocrata que não dá audiências ao povo recebia telegramas intimativos de militares na obra do nacionalismo; o presidente, que quer passar por justo, proibia os meetings pelo barateamento das casas e consentia na palhaçada insolente dos comícios em que a tropilha dizia sandices não só aos portugueses vivos como aos mortos.


Disso tudo resultou apenas o seguinte:

– Não termos peixe senão por preços elevadíssimos no Pará e no Rio e V. Exa. gritar numa reunião o seu célebre lema: “Nacionalismo ou morte!”

Ora, precisamente agora é que, parece-me, V. Exa. precisa provar de que natureza é esse seu nacionalismo e de que natureza é o nacionalismo dos “protetores” dos pescadores brasileiros. V. Exa. consentiu que no jornal do seu partido – o único partido nacional no dizer de V. Exa. – insultassem semanalmente um colega seu que só lhe fizera elogios, sem retribuição. V. Exa., que lera os meus trabalhos, sabia muito bem a decisão do meu esforço patriótico. Eu quis crer que V. Exa., no apogeu de uma carreira brilhante, exagerava até a injustiça do sectarismo um ideal nacional. Neste momento, porém, parece-me, o ideal do “Brasil é dos brasileiros” devia estar em ebulição com o que se passa com as nossas terras de Mato Grosso e os nossos navios ex-alemães.


Daí perguntar-lhe eu, como aliás toda a população: que pensa V. Exa. disso e por que estão tardando tanto os meetings da Ação, que se realizavam com tanta pontualidade e a propósito de coisa alguma – para insultar Portugal, Pedr’Alvares e vários pacientes verdadeiros que não dão mais cartas de fiança.


Que diabo! “Nacionalismo ou morte!” para, armado de um regulamento inconstitucional, expulsar os poveiros do Rio de Janeiro e do Rio Grande do Sul: “nacionalismo ou morte!” para o impagável Delamare “voar” numa eleição de deputado; “nacionalismo ou morte!” para prejudicar e atrasar o Brasil, dificultando a imigração; e nada de nacionalismo nem de morte quando os americanos se instalam em 400 mil hectares de terras em Mato Grosso, quando a França, depois de não nos pagar o afretamento dos nossos navios, de pintar o sete com as guarnições brasileiras desses navios, ainda por cima os empalma com toda a tranquilidade e molho de discursos sobre a fraternidade latino-americana?


Teriam razão os que viam V. Exa., entontecido pelos louvores de leiloeiro do Delamare, não sabendo bem o que fazia? Teriam razão os que afirmam que a pilhéria do nacionalismo da Ação é apenas o nacionalismo que convém ao Dr. Epitácio?

Todos nós, entretanto, ainda esperamos, Excelência, o gesto de revolta – pelo menos para que a Ação não afunde em ridículo. Será hoje o primeiro meeting contra o “passe” da França, fará a Ação um meeting patriótico que não seja contra os “estrangeiros ingratos” que aqui conosco trabalham?


A cidade e o Brasil contemplam V. Excelência. Do alto deste momento quatro séculos de verdadeiro patriotismo do Brasil esperam...


João do Rio

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